“Devemos, em nossas relações,
nos pautarmos pelo que é útil ou pelo que é honesto?” (Gabriel Tarde)
Pode parecer uma temeridade a
afirmação de que a doença de Hugo Chavez é um engodo, uma farsa. O que intriga
mesmo para um observador mais atento não é propriamente a existência da doença
em si, mas a forma como ela está sendo conduzida e pelas circunstâncias
políticas que a cercam. Talvez seria melhor a afirmação, ou interrogação: a
doença do presidente da Venezuela é mesmo grave como se tem anunciado?
Desde que Chavez trouxe a público a
sua doença em junho de 2011 (quando afirmou que havia sido operado dias antes
em Cuba), o alegado câncer vem se manifestando mais politicamente do que sob o
ponto de vista médico. Em outubro deste
ano consegue se reeleger presidente para um mandato até 2019, tendo como
principal cabo eleitoral a exploração emotiva e sentimental de sua doença,
quando sua reeleição era duvidosa. Agora, antes das eleições para os governos
estaduais, ele anuncia o agravamento de sua doença a poucos dias da sua
realização.
No anúncio feito poucos dias antes
das eleições dos governos dos estados na Venezuela, vimos um Chavez bem
disposto dizendo à nação venezuelana que o câncer que havia antes declarado
completamente vencido, voltara a se manifestar com gravidade. Disse que acaso
morresse o povo venezuelano deveria apoiar seu vice-presidente e garantir a
revolução bolivariana. Em seguida partiu para Cuba para ser operado.
O que intriga nessa história da
doença de Chavez é que quando ele anunciou o seu agravamento, tinha acabado de
retornar de Cuba. Chega de Cuba dia 7 de dezembro, anuncia seu retorno para
tratamento no dia seguinte, dia 8, e em seguida retorna à ilha de Fidel. Ganhou
as eleições para os governos estaduais de barbada poucos dias depois.
Algumas circunstâncias chamam a
atenção para essa doença de Chavez. Primeiro: ele anunciou seu retorno a Cuba
para tratamento pouco antes das eleições; segundo: ele havia acabado de
retornar de Cuba. Se era tão grave a doença, por que ele veio constatar a sua
gravidade quando estava em solo venezuelano, retornando a Cuba em seguida à sua
volta?; Se era grave, por que os médicos cubanos o deixaram retornar de Cuba?;
terceiro: a aparência de quem falava de uma doença grave, era a de um homem
saudável que poderia perfeitamente esperar para participar das eleições que se
realizariam dali a poucos dias, como fez na sua reeleição; quarto: o discurso
de Chavez ao anunciar seu retorno a Cuba para tratamento - ao contrário de como
reage o comportamento humano – era, não de esperança, mas de quem estaria na
iminência de morrer.
Ora, o que sabemos do estado de
saúde de Chavez depois que ele retornou a Cuba tem sido veiculado pelo governo
cubano. O interessante é que todas as notícias que vêm sendo dadas a respeito
de sua doença são as mais pessimista possíveis, na contramão do que manda o
manual do exercício do poder. Nos regimes democráticos já é tradição
esconder-se o verdadeiro estado de saúde de seus governantes, sempre se
anunciando o seu bem-estar, mesmo quando a situação não é essa. Nos regimes
totalitários ou com restrição à liberdade de imprensa ou opinião, essa tradição
é muito mais acentuada. Esconde-se a verdade do povo anunciando-lhe sempre a
notícia de modo inverso ou diferente da realidade. Nesses regimes, num caso de
doença de seus dirigentes, a regra é anunciar que tudo vai bem.
Por que o governo de Cuba, então,
vem anunciando sistematicamente, não só o dia a dia da doença de Chavez, como a
sua gravidade? Isso, como foi dito, refoge à regra e esconde, decerto, segundas
intenções. Não seria mais lógico dizer que Chavez se recupera bem, está melhorando,
etc? Mas não. Faz-se exatamente o contrário. O que causa espécie, de mais a mais,
de tudo o que se fala do quadro clínico de Chavez, é que tudo é veiculado pelo
porta-voz do governo cubano e a imprensa mundo afora retransmite sem qualquer
questionamento como isso fosse verdade. Ou seja, a imprensa livre retransmite
notícias passadas de onde não se tem liberdade de imprensa e por quem
sistematicamente manipula os fatos. Isso vale para Cuba, como para a Venezuela
de Chavez.
O que há de verdade e mentira nisso tudo?
Gabriel Tarde, magistrado francês, 1843/1904, afirmava que “a verdade não é a justeza,
é uma quantidade”, ou seja, “é a opinião pública e não uma verdade determinada”.
Em outras palavras, ainda que Chavez e o governo de Cuba anunciem ao mundo a gravidade
de sua doença, o seu público é o povo venezuelano.
Pode parecer pretensão, mas vou
fazer uma afirmação: o agravamento da doença de Chavez foi providenciado para
ele ganhar as eleições. E vou profetizar: ele voltará em pouco tempo para a
Venezuela esbanjando saúde, mesmo correndo o risco de queimar a língua e vê-lo retornar
de Cuba num caixão.
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