quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A DOENÇA DE CHAVEZ É UMA FARSA





“Devemos, em nossas relações, nos pautarmos pelo que é útil ou pelo que é honesto?” (Gabriel Tarde)


            Pode parecer uma temeridade a afirmação de que a doença de Hugo Chavez é um engodo, uma farsa. O que intriga mesmo para um observador mais atento não é propriamente a existência da doença em si, mas a forma como ela está sendo conduzida e pelas circunstâncias políticas que a cercam. Talvez seria melhor a afirmação, ou interrogação: a doença do presidente da Venezuela é mesmo grave como se tem anunciado?

            Desde que Chavez trouxe a público a sua doença em junho de 2011 (quando afirmou que havia sido operado dias antes em Cuba), o alegado câncer vem se manifestando mais politicamente do que sob o ponto de vista médico.  Em outubro deste ano consegue se reeleger presidente para um mandato até 2019, tendo como principal cabo eleitoral a exploração emotiva e sentimental de sua doença, quando sua reeleição era duvidosa. Agora, antes das eleições para os governos estaduais, ele anuncia o agravamento de sua doença a poucos dias da sua realização.

            No anúncio feito poucos dias antes das eleições dos governos dos estados na Venezuela, vimos um Chavez bem disposto dizendo à nação venezuelana que o câncer que havia antes declarado completamente vencido, voltara a se manifestar com gravidade. Disse que acaso morresse o povo venezuelano deveria apoiar seu vice-presidente e garantir a revolução bolivariana. Em seguida partiu para Cuba para ser operado.

            O que intriga nessa história da doença de Chavez é que quando ele anunciou o seu agravamento, tinha acabado de retornar de Cuba. Chega de Cuba dia 7 de dezembro, anuncia seu retorno para tratamento no dia seguinte, dia 8, e em seguida retorna à ilha de Fidel. Ganhou as eleições para os governos estaduais de barbada poucos dias depois.

            Algumas circunstâncias chamam a atenção para essa doença de Chavez. Primeiro: ele anunciou seu retorno a Cuba para tratamento pouco antes das eleições; segundo: ele havia acabado de retornar de Cuba. Se era tão grave a doença, por que ele veio constatar a sua gravidade quando estava em solo venezuelano, retornando a Cuba em seguida à sua volta?; Se era grave, por que os médicos cubanos o deixaram retornar de Cuba?; terceiro: a aparência de quem falava de uma doença grave, era a de um homem saudável que poderia perfeitamente esperar para participar das eleições que se realizariam dali a poucos dias, como fez na sua reeleição; quarto: o discurso de Chavez ao anunciar seu retorno a Cuba para tratamento - ao contrário de como reage o comportamento humano – era, não de esperança, mas de quem estaria na iminência de morrer.

            Ora, o que sabemos do estado de saúde de Chavez depois que ele retornou a Cuba tem sido veiculado pelo governo cubano. O interessante é que todas as notícias que vêm sendo dadas a respeito de sua doença são as mais pessimista possíveis, na contramão do que manda o manual do exercício do poder. Nos regimes democráticos já é tradição esconder-se o verdadeiro estado de saúde de seus governantes, sempre se anunciando o seu bem-estar, mesmo quando a situação não é essa. Nos regimes totalitários ou com restrição à liberdade de imprensa ou opinião, essa tradição é muito mais acentuada. Esconde-se a verdade do povo anunciando-lhe sempre a notícia de modo inverso ou diferente da realidade. Nesses regimes, num caso de doença de seus dirigentes, a regra é anunciar que tudo vai bem.

            Por que o governo de Cuba, então, vem anunciando sistematicamente, não só o dia a dia da doença de Chavez, como a sua gravidade? Isso, como foi dito, refoge à regra e esconde, decerto, segundas intenções. Não seria mais lógico dizer que Chavez se recupera bem, está melhorando, etc? Mas não. Faz-se exatamente o contrário. O que causa espécie, de mais a mais, de tudo o que se fala do quadro clínico de Chavez, é que tudo é veiculado pelo porta-voz do governo cubano e a imprensa mundo afora retransmite sem qualquer questionamento como isso fosse verdade. Ou seja, a imprensa livre retransmite notícias passadas de onde não se tem liberdade de imprensa e por quem sistematicamente manipula os fatos. Isso vale para Cuba, como para a Venezuela de Chavez.

            O que há de verdade e mentira nisso tudo? Gabriel Tarde, magistrado francês, 1843/1904, afirmava que “a verdade não é a justeza, é uma quantidade”, ou seja, “é a opinião pública e não uma verdade determinada”. Em outras palavras, ainda que Chavez e o governo de Cuba anunciem ao mundo a gravidade de sua doença, o seu público é o povo venezuelano.

            Pode parecer pretensão, mas vou fazer uma afirmação: o agravamento da doença de Chavez foi providenciado para ele ganhar as eleições. E vou profetizar: ele voltará em pouco tempo para a Venezuela esbanjando saúde, mesmo correndo o risco de queimar a língua e vê-lo retornar de Cuba num caixão.

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