segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A AUTOFAGIA DO PT OU A DOSE DO MENSALÃO NÃO FOI SUFICIENTE





“Há uma enorme diferença entre presumir uma opinião como verdadeira, porque, apesar de todas as oportunidades para contestá-la, ela não foi refutada, e pressupor sua verdade com o propósito de não permitir sua refutação” (John Stuart Mill)

Fico a me perguntar se alguém na imprensa brasileira - que vocaliza a vida política do país - ou alguém de bom senso não enxerga que há uma luta intestina dentro do Partido dos Trabalhadores pelo poder. Já disse antes que a condenação no julgamento do mensalão pelo STF de alguns dos seus principais próceres da seção paulista do PT – com o aval do Planalto – já era um indicativo claro dessa afirmação. As declarações do ministro Fux há poucos dias ao jornal Folha de São Paulo reafirmam essa convicção na medida em que disse que após procurar o manda-chuva José Dirceu para chegar ao STF, ainda assim votou pela sua condenação em seguida à sua nomeação por Dilma Roussef. Rosa Weber, por sua vez, foi indicação de Tarso Genro, desafeto de José Dirceu.

O Palácio do Planalto – entenda-se a seção gaúcha do PT – por certo sinalizou na condenação de José Dirceu e seus companheiros de São Paulo devendo os estilhaços alcançar o ex-presidente Lula. Não fosse assim, Fux e Rosa Weber, esta nomeada pouco antes do julgamento do mensalão por Dilma, não teriam votado pela condenação da turma de São Paulo. Essas condenações, por óbvio – e segundo Nelson Rodrigues as pessoas enxergam tudo, menos o óbvio – tinham por objetivo minar a candidatura paulistana de Hadad e atingir o ex-presidente Lula, pretenso ou virtual candidato à sucessão de sua criatura, Dilma Roussef, em 2.014. Mas a dose do mensalão não foi suficiente.

Não foi suficiente, pois ao contrário do que os “experts” (assim mesmo, entre aspas) em política previram, Lula, contra todos os prognósticos, impôs, indicou e elegeu seu poste também em São Paulo, como já fizera com Dilma Roussef. A seção gaúcha do PT avaliou que Lula perdendo em São Paulo, estaria desgastado para a eleição em 2.014. Mas como a dose do mensalão na eleição paulistana não foi suficiente, o Planalto pôs em curso a operação Porto Seguro. Nessa operação, que teve como epicentro a chefe de gabinete da presidência da república em São Paulo, o vice-rei da AGU e dois obscuros irmãos Vieira, o alvo mesmo acabou sendo Lula, padrinho e amante da primeira.

O governo jura que só soube da operação um dia antes da sua deflagração, pois, segundo o ministro da Justiça, a polícia federal é uma polícia republicana (palavra tão ao gosto no jargão petista) e não de partido, só agindo dentro da legalidade com extrema independência. Só um tolo poderia acreditar nessa versão, pois qual seria o delegado que teria peito para levar adiante uma investigação que iria acertar em cheio a reputação do maior nome do PT, Lula, à revelia do superintendente da PF em São Paulo, do ministro da justiça e da presidente da república? A revista Veja chega a ser pueril – ou se faz, pois de há muito vem fazendo o jogo do governo Dilma - quando diz que a operação Porto Seguro só foi possível devido a uma medida administrativa tomada por Tarso Genro ao tempo em que foi ministro da Justiça, permitindo a descentralização das ações da PF. O sogro do atual ministro da Justiça não seria tão presciente assim.

O jornal O Estado de São Paulo de 3 de agosto divulgou uma pesquisa feita pela CNT, realizada nos dias 18 e 22 de julho deste ano, dando conta que Lula teria 69,8% das intenções de votos para presidente num cenário contra um candidato da oposição se a eleição fosse realizada naquela data, e Dilma, 59%, contra esse mesmo candidato. A mulher que tem a caneta e o diário oficial nas mãos tem menos votos que o populista sem mandato. Ou seja, antes da eleição de Hadad que se daria menos de três meses depois, Lula já mostrava sua força e isso o Planalto sabia. Assim sendo, deixaria ou permitiria a deflagração de uma operação policial que iria atingir em cheio a sua reputação se não tivesse justamente esse interesse?

Por que – essa pergunta tem de ser repetida - na medida em que o PT de São Paulo mostra força através de seu líder maior, o ex-presidente Lula, elegendo Hadad, o Planalto iria permitir que se levasse a cabo uma operação policial que teve na proa o seu nome? A resposta é: porque Lula é o principal concorrente em 2.014 da presidente Dilma. Ou alguém em sã consciência acredita que a polícia federal não fez escutas com a d. Rosemary? Só que o Planalto, através de seu ministro da justiça, acha que divulgar conversas dessa senhora não seria recomendável ou porque a dose seria cavalar para mostrar o que os cegos já veem.

Mas não acabou por aí. Agora vem à tona a figura de Marcos Valério fazendo acusações veladas ao ex-presidente Lula, dizendo que ele não só sabia, como deu ordens para se levar adiante, vamos chamar assim, a operação mensalão, bem como afirmando que pagou despesas pessoais de Lula depositando 100 mil reais na conta de Godoy, um lacaio do ex-presidente. Temos na sequência as condenações do mensalão, a operação Porto Seguro e as recentes declarações de Marcos Valério num espaço de menos de quatro meses envolvendo Lula em escândalos. Será coincidência?

Por fim, como em toda farsa que se preze, Dilma e seus acólitos fazem o mise en scène como manda o figurino. Primeiro, mandando José Eduardo Cardozo ao Congresso explicar para sua claque pelego-governista a isenção do governo na operação Porto Seguro pela polícia federal; depois, Dilma com sua indisfarçável satisfação - ou insatisfação? – defendendo Lula das acusações de Marcos Valério. Não sabemos se ainda restarão dias este ano para uma nova investida ou um novo escândalo contra o ex-presidente, mas 2.013 terá 365 dias.

O restante da defenestração de Lula e do jogo do governo são feitos pela oposição que com esse simulacro de crise no PT dá tiro no alvo errado e, pela imprensa, que não enxerga, ou se enxerga, quer dar uma versão dos fatos distantes de sua realidade, publicando de modo seletivo aquilo que lhe é passado pela PF. O PT está em processo de autofagia política, se comendo, como já ocorreu na Rússia soviética. Só não sabemos se haverá alguém fugindo para o México.

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