“Há
uma enorme diferença entre presumir uma opinião como verdadeira, porque, apesar
de todas as oportunidades para contestá-la, ela não foi refutada, e pressupor
sua verdade com o propósito de não permitir sua refutação” (John Stuart
Mill)
Fico
a me perguntar se alguém na imprensa brasileira - que vocaliza a vida política
do país - ou alguém de bom senso não enxerga que há uma luta intestina dentro
do Partido dos Trabalhadores pelo poder. Já disse antes que a condenação no
julgamento do mensalão pelo STF de alguns dos seus principais próceres da seção
paulista do PT – com o aval do Planalto – já era um indicativo claro dessa
afirmação. As declarações do ministro Fux há poucos dias ao jornal Folha de São Paulo reafirmam essa
convicção na medida em que disse que após procurar o manda-chuva José Dirceu
para chegar ao STF, ainda assim votou pela sua condenação em seguida à sua
nomeação por Dilma Roussef. Rosa Weber, por sua vez, foi indicação de Tarso
Genro, desafeto de José Dirceu.
O
Palácio do Planalto – entenda-se a seção gaúcha do PT – por certo sinalizou na
condenação de José Dirceu e seus companheiros de São Paulo devendo os
estilhaços alcançar o ex-presidente Lula. Não fosse assim, Fux e Rosa Weber,
esta nomeada pouco antes do julgamento do mensalão por Dilma, não teriam votado
pela condenação da turma de São Paulo. Essas condenações, por óbvio – e segundo
Nelson Rodrigues as pessoas enxergam tudo, menos o óbvio – tinham por objetivo
minar a candidatura paulistana de Hadad e atingir o ex-presidente Lula,
pretenso ou virtual candidato à sucessão de sua criatura, Dilma Roussef, em
2.014. Mas a dose do mensalão não foi suficiente.
Não
foi suficiente, pois ao contrário do que os “experts”
(assim mesmo, entre aspas) em política previram, Lula, contra todos os
prognósticos, impôs, indicou e elegeu seu poste também em São Paulo, como já
fizera com Dilma Roussef. A seção gaúcha do PT avaliou que Lula perdendo em São
Paulo, estaria desgastado para a eleição em 2.014. Mas como a dose do mensalão
na eleição paulistana não foi suficiente, o Planalto pôs em curso a operação
Porto Seguro. Nessa operação, que teve como epicentro a chefe de gabinete da
presidência da república em São Paulo, o vice-rei da AGU e dois obscuros irmãos
Vieira, o alvo mesmo acabou sendo Lula, padrinho e amante da primeira.
O
governo jura que só soube da operação um dia antes da sua deflagração, pois,
segundo o ministro da Justiça, a polícia federal é uma polícia republicana (palavra
tão ao gosto no jargão petista) e não de partido, só agindo dentro da
legalidade com extrema independência. Só um tolo poderia acreditar nessa versão,
pois qual seria o delegado que teria peito para levar adiante uma investigação
que iria acertar em cheio a reputação do maior nome do PT, Lula, à revelia do
superintendente da PF em São Paulo, do ministro da justiça e da presidente da
república? A revista Veja chega a ser
pueril – ou se faz, pois de há muito vem fazendo o jogo do governo Dilma - quando
diz que a operação Porto Seguro só foi possível devido a uma medida
administrativa tomada por Tarso Genro ao tempo em que foi ministro da Justiça,
permitindo a descentralização das ações da PF. O sogro do atual ministro da
Justiça não seria tão presciente assim.
O
jornal O Estado de São Paulo de 3 de
agosto divulgou uma pesquisa feita pela CNT, realizada nos dias 18 e 22 de
julho deste ano, dando conta que Lula teria 69,8% das intenções de votos para
presidente num cenário contra um candidato da oposição se a eleição fosse realizada
naquela data, e Dilma, 59%, contra esse mesmo candidato. A mulher que tem a
caneta e o diário oficial nas mãos tem menos votos que o populista sem mandato.
Ou seja, antes da eleição de Hadad que se daria menos de três meses depois,
Lula já mostrava sua força e isso o Planalto sabia. Assim sendo, deixaria ou
permitiria a deflagração de uma operação policial que iria atingir em cheio a
sua reputação se não tivesse justamente esse interesse?
Por
que – essa pergunta tem de ser repetida - na medida em que o PT de São Paulo
mostra força através de seu líder maior, o ex-presidente Lula, elegendo Hadad,
o Planalto iria permitir que se levasse a cabo uma operação policial que teve
na proa o seu nome? A resposta é: porque Lula é o principal concorrente em
2.014 da presidente Dilma. Ou alguém em sã consciência acredita que a polícia
federal não fez escutas com a d. Rosemary? Só que o Planalto, através de seu
ministro da justiça, acha que divulgar conversas dessa senhora não seria
recomendável ou porque a dose seria cavalar para mostrar o que os cegos já
veem.
Mas
não acabou por aí. Agora vem à tona a figura de Marcos Valério fazendo
acusações veladas ao ex-presidente Lula, dizendo que ele não só sabia, como deu
ordens para se levar adiante, vamos chamar assim, a operação mensalão, bem como
afirmando que pagou despesas pessoais de Lula depositando 100 mil reais na
conta de Godoy, um lacaio do ex-presidente. Temos na sequência as condenações
do mensalão, a operação Porto Seguro e as recentes declarações de Marcos Valério
num espaço de menos de quatro meses envolvendo Lula em escândalos. Será
coincidência?
Por
fim, como em toda farsa que se preze, Dilma e seus acólitos fazem o mise en scène como manda o figurino. Primeiro,
mandando José Eduardo Cardozo ao Congresso explicar para sua claque
pelego-governista a isenção do governo na operação Porto Seguro pela polícia
federal; depois, Dilma com sua indisfarçável satisfação - ou insatisfação? – defendendo
Lula das acusações de Marcos Valério. Não sabemos se ainda restarão dias este
ano para uma nova investida ou um novo escândalo contra o ex-presidente, mas
2.013 terá 365 dias.
O
restante da defenestração de Lula e do jogo do governo são feitos pela oposição
que com esse simulacro de crise no PT dá tiro no alvo errado e, pela imprensa,
que não enxerga, ou se enxerga, quer dar uma versão dos fatos distantes de sua
realidade, publicando de modo seletivo aquilo que lhe é passado pela PF. O PT
está em processo de autofagia política, se comendo, como já ocorreu na Rússia
soviética. Só não sabemos se haverá alguém fugindo para o México.
Nenhum comentário:
Postar um comentário