terça-feira, 5 de novembro de 2013

PETROBRAS – ANATOMIA DE UMA FARSA. O VOTO NULO



“Se a Petrobras é eficiente não precisa de monopólio; se não é eficiente, não o merece” (Humberto de Alencar Castelo Branco). 


Acompanhei, como todo o país, o anúncio grandiloquente feito pelo Governo e a direção da Petrobras sobre o início da exploração do pré-sal. Não sou especialista em números, em dados, em estatísticas, em projeções, em nada disso. Sou apenas um cidadão leigo que observei à distância o anúncio que vai tirar o Brasil da miséria e lançá-lo aos píncaros da glória, ao lado das grandes potências mundiais com o dinheiro do pré sal.

            O governo anunciou com pompa e circunstância que daqui a uns dez anos, quando o petróleo tiver jorrado no fundo do mar, serão destinados não sei quantos bilhões de reais para a educação do povo brasileiro, que nossa infraestrutura econômica vai ganhar um salto nunca visto, que nós vamos crescer e outros ufanismos do gênero. A verdade, e digo isso, repito, como mero cidadão que prefere falar das coisas palpáveis e fáceis de ser entendidas e questionadas, é que só um cego não consegue enxergar o embuste por trás desse discurso eleitoreiro do Governo. O leilão para a partilha do pré-sal pela análise de revistas isentas e autorizadas no assunto, como a The Economist, foi um fiasco, porque teve muito poucos interessados na sua exploração, aumentando assim a participação em dinheiro da Petrobras nesse investimento (entenda, dinheiro do Governo, via Tesouro e BNDES, para a Petrobras, dinheiro do contribuinte). Ou seja, não é um bilhete de loteria premiado.

            Mas, a pergunta que não foi feita pela imprensa e pelos entendidos, diante de todo esse oba-oba embusteiro, ou a informação que deveria ter sido dada pelo Governo ou Petrobras, sem necessidade de tal indagação, era: o preço da gasolina vai baixar para os consumidores brasileiros quando essa tal riqueza for extraída do fundo do mar? Esse silêncio é inexplicável e incompreensível, não só por parte da mídia, como dos políticos, principalmente daqueles que aspiram à presidência da república. Do Governo, por óbvio, não se poderia esperar outra coisa. Mas, por que esse silêncio? Se há uma coisa que o brasileiro médio poderia sustentar como justificativa para a existência da Petrobras é poder pagar um preço pela gasolina compatível com a pujança e riqueza que a nossa estatal do petróleo arrota mentirosamente.

            Mas não. O que se viu foi aquele discurso abstrato e enganador do Governo, falando em cifras e êxitos colossais para o nosso povo com a conquista do pré-sal. Como as coisas em tese só irão acontecer num futuro não muito perto, quem vai cobrar sua realização? Como aferir ganhos e conquistas na educação, algo tão abstrato como irreal neste país?

Agora, aquilo que o brasileiro sente no bolso no dia a dia, quando põe seu carro na rua para o trabalho, para levar o filho na escola, para fazer as compras, enfim, para tudo, isso nenhuma palavra sobre o preço escorchante da gasolina que pagamos e que já há anúncio à vista de aumento. Quando é que vai aparecer neste país um homem (pode ser mulher, também, antes que as feministas chiem) que tenha a coragem de denunciar que o monopólio e estatização da Petrobras não fazem mais o menor sentido? Mas, parece que tocar nesse assunto é um verdadeiro tabu, ainda que todas as evidências, notícias, dados, estatísticas e, principalmente, o bolso do brasileiro, demonstrem que a estatal brasileira que tem o monopólio da exploração do petróleo, é uma empresa deficitária e que só tem sobrevivido graças às maquiagens contábeis que o seu pessoal e o do Governo fazem para mostrar o que já não pode ser escondido.

            Antes de escrever este artigo liguei para um amigo nos Estados Unidos para me informar o preço da gasolina por lá. São $ 3,11 (três dólares e onze centavos) em media, o galão na Flórida, sendo que o preço convertido em litro dá pouco mais de 1 dólar, algo em torno de R$ 2,30, já que um galão corresponde a 3,8 litros. Em Brasília, como em boa parte do país, a gasolina custa R$ 2,99! E vem mais aumento! A Petrobras tem de explicar como é que os Estados Unidos importam quase 100% de seu petróleo de várias partes do mundo, mantêm aquartelado um exército de soldados em alguns desses lugares para garantir o seu suprimento – encarecendo seu custo - não põem etanol na gasolina e outras impurezas, e conseguem fornecer ao seu povo combustível mais em conta. Mas na hora em que esse tipo de questionamento é feito no Brasil – sem a devida contradita – os técnicos da Petrobras e do Governo vêm com aquela linguagem das cifras e dos números que só eles entendem para justificar o injustificável.

            A Petrobras, como estatal e detentora de monopólio, não faz mais o menor sentido, pois sem concorrentes e impondo a política de combustíveis ao país consegue a proeza de ser deficitária. O que me choca, no entanto, é o porquê do silêncio de pessoas que devem enxergar o mesmo que eu e muitos brasileiros enxergamos e não dizem absolutamente nada! Qual é o mistério de os candidatos à presidência da república pela oposição não quebrarem esse tabu da intocabilidade da Petrobras, numa atitude passiva e covarde ante o discurso farsesco e enganador de que “o petróleo é nosso”? Qual tem sido o benefício que o povo brasileiro tem obtido com a existência da Petrobras, que não seja o de ser assaltado há décadas pagando por preços de combustíveis escorchantes que não devolvem nada ao país?

            Será que esse tema não dá voto?


            O ex-presidente Castelo Branco, citado por Roberto Campos em seu livro A lanterna na popa, é que tinha razão na frase citada na epígrafe deste artigo. Castelo Branco talvez tenha morrido cedo demais para ver até onde chegou esse mito-monstro que sempre iludiu o nosso povo e nos devora. Nada de passeatas, de movimento de rua, de protestos populares; a classe política já passou o susto e percebeu que com esse tipo de reivindicação não chegamos a lugar nenhum. Só há um instrumento que pode mudar as coisas neste país e mostrar a eles e ao mundo uma resposta a tanta indecência e mediocridade: o voto nulo!

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