“Se a Petrobras é
eficiente não precisa de monopólio; se não é eficiente, não o merece” (Humberto de Alencar Castelo
Branco).
Acompanhei, como todo o país, o anúncio
grandiloquente feito pelo Governo e a direção da Petrobras sobre o início da
exploração do pré-sal. Não sou especialista em números, em dados, em
estatísticas, em projeções, em nada disso. Sou apenas um cidadão leigo que
observei à distância o anúncio que vai tirar o Brasil da miséria e lançá-lo aos
píncaros da glória, ao lado das grandes potências mundiais com o dinheiro do
pré sal.
O governo anunciou com pompa e
circunstância que daqui a uns dez anos, quando o petróleo tiver jorrado no
fundo do mar, serão destinados não sei quantos bilhões de reais para a educação
do povo brasileiro, que nossa infraestrutura econômica vai ganhar um salto
nunca visto, que nós vamos crescer e outros ufanismos do gênero. A verdade, e
digo isso, repito, como mero cidadão que prefere falar das coisas palpáveis e
fáceis de ser entendidas e questionadas, é que só um cego não consegue enxergar
o embuste por trás desse discurso eleitoreiro do Governo. O leilão para a
partilha do pré-sal pela análise de revistas isentas e autorizadas no assunto,
como a The Economist, foi um fiasco,
porque teve muito poucos interessados na sua exploração, aumentando assim a
participação em dinheiro da Petrobras nesse investimento (entenda, dinheiro do
Governo, via Tesouro e BNDES, para a Petrobras, dinheiro do contribuinte). Ou
seja, não é um bilhete de loteria premiado.
Mas, a pergunta que não foi feita
pela imprensa e pelos entendidos, diante de todo esse oba-oba embusteiro, ou a
informação que deveria ter sido dada pelo Governo ou Petrobras, sem necessidade
de tal indagação, era: o preço da gasolina vai baixar para os consumidores
brasileiros quando essa tal riqueza for extraída do fundo do mar? Esse silêncio
é inexplicável e incompreensível, não só por parte da mídia, como dos
políticos, principalmente daqueles que aspiram à presidência da república. Do
Governo, por óbvio, não se poderia esperar outra coisa. Mas, por que esse
silêncio? Se há uma coisa que o brasileiro médio poderia sustentar como
justificativa para a existência da Petrobras é poder pagar um preço pela
gasolina compatível com a pujança e riqueza que a nossa estatal do petróleo
arrota mentirosamente.
Mas não. O que se viu foi aquele
discurso abstrato e enganador do Governo, falando em cifras e êxitos colossais
para o nosso povo com a conquista do pré-sal. Como as coisas em tese só irão
acontecer num futuro não muito perto, quem vai cobrar sua realização? Como
aferir ganhos e conquistas na educação, algo tão abstrato como irreal neste
país?
Agora, aquilo que o brasileiro sente no
bolso no dia a dia, quando põe seu carro na rua para o trabalho, para levar o
filho na escola, para fazer as compras, enfim, para tudo, isso nenhuma palavra
sobre o preço escorchante da gasolina que pagamos e que já há anúncio à vista
de aumento. Quando é que vai aparecer neste país um homem (pode ser mulher,
também, antes que as feministas chiem) que tenha a coragem de denunciar que o
monopólio e estatização da Petrobras não fazem mais o menor sentido? Mas,
parece que tocar nesse assunto é um verdadeiro tabu, ainda que todas as
evidências, notícias, dados, estatísticas e, principalmente, o bolso do
brasileiro, demonstrem que a estatal brasileira que tem o monopólio da exploração
do petróleo, é uma empresa deficitária e que só tem sobrevivido graças às
maquiagens contábeis que o seu pessoal e o do Governo fazem para mostrar o que
já não pode ser escondido.
Antes de escrever este artigo liguei
para um amigo nos Estados Unidos para me informar o preço da gasolina por lá.
São $ 3,11 (três dólares e onze centavos) em media, o galão na Flórida, sendo
que o preço convertido em litro dá pouco mais de 1 dólar, algo em torno de R$
2,30, já que um galão corresponde a 3,8 litros. Em Brasília, como em boa parte
do país, a gasolina custa R$ 2,99! E vem mais aumento! A Petrobras tem de
explicar como é que os Estados Unidos importam quase 100% de seu petróleo de
várias partes do mundo, mantêm aquartelado um exército de soldados em alguns
desses lugares para garantir o seu suprimento – encarecendo seu custo - não
põem etanol na gasolina e outras impurezas, e conseguem fornecer ao seu povo
combustível mais em conta. Mas na hora em que esse tipo de questionamento é
feito no Brasil – sem a devida contradita – os técnicos da Petrobras e do
Governo vêm com aquela linguagem das cifras e dos números que só eles entendem
para justificar o injustificável.
A Petrobras, como estatal e
detentora de monopólio, não faz mais o menor sentido, pois sem concorrentes e
impondo a política de combustíveis ao país consegue a proeza de ser
deficitária. O que me choca, no entanto, é o porquê do silêncio de pessoas que
devem enxergar o mesmo que eu e muitos brasileiros enxergamos e não dizem
absolutamente nada! Qual é o mistério de os candidatos à presidência da
república pela oposição não quebrarem esse tabu da intocabilidade da Petrobras,
numa atitude passiva e covarde ante o discurso farsesco e enganador de que “o
petróleo é nosso”? Qual tem sido o benefício que o povo brasileiro tem obtido
com a existência da Petrobras, que não seja o de ser assaltado há décadas pagando
por preços de combustíveis escorchantes que não devolvem nada ao país?
Será que esse tema não dá voto?
O ex-presidente Castelo Branco, citado
por Roberto Campos em seu livro A lanterna
na popa, é que tinha razão na frase citada na epígrafe deste artigo.
Castelo Branco talvez tenha morrido cedo demais para ver até onde chegou esse mito-monstro
que sempre iludiu o nosso povo e nos devora. Nada de passeatas, de movimento de
rua, de protestos populares; a classe política já passou o susto e percebeu que
com esse tipo de reivindicação não chegamos a lugar nenhum. Só há um
instrumento que pode mudar as coisas neste país e mostrar a eles e ao mundo uma
resposta a tanta indecência e mediocridade: o voto nulo!
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