“O falso líder brasileiro, o
falso líder é fácil de fazer-se. Ele se for das omissões se alista na famosa
reserva moral que nunca se arrisca. Ele cumpre seu dever na voz passiva. Ele
não erra simplesmente porque não age. Não se gasta somente porque não se
engaja. Ele está sempre disponível para confirmar o que os outros já fizeram. É
o estadista do óbvio, o que serve a todos os regimes com igual subserviência e
invariável disponibilidade moral” (Carlos
Lacerda)
Chico Anysio criou um personagem nos seus
áureos tempos de comediante - Bento Carneiro, Vampiro Brasileiro – que não
ficou famoso como outros de seus personagens, mas que era tão bom quanto
aqueles por ele criados, embora parte das pessoas não alcançasse onde ele
queria chegar. Bento Carneiro era aquele vampiro ridículo, sem graça, que não
assustava e nem metia medo em ninguém, daí porque Chico Anysio com sua
genialidade tenha acrescido o “vampiro brasileiro” ao nome de Bento Carneiro
para mostrar que vampiro que se preze tem que meter medo e o Brasil não é lugar
de vampiro. Na verdade era uma crítica a certos comportamentos e costumes da
sociedade brasileira e suas instituições que muitas vezes estavam na contramão
da razão e do bom senso.
Se Chico Anysio estivesse vivo,
Bento Carneiro poderia encarnar a atual classe política brasileira, que embora
possa meter medo no povo brasileiro, prima pelo ridículo e pela falta de ideias
e comportamentos sensatos. Aqui neste país como se sabe o conceito de governo e
oposição acabou, chegando a se confundir, como os porcos e os donos da fazenda
na obra de George Orwell, A revolução dos
Bichos, quando não se sabia quem efetivamente era homem ou suíno.
Nessa disputa pela incompetência não
se sabe quem é melhor, ou pior. Veja-se a atitude do hermafrodita político
Guilherme Afif Domingos e seu partido PSD. Eleito vice-governador de São Paulo
na chapa do PSDB, principal partido de oposição ao governo petista, Afif
aceitou um cargo de ministro no governo Dilma. Questionado sobre se sua
aceitação ao cargo num governo em que, em tese, ele faz oposição, não seria
insólito ou contraditório, Afif e o PSD disseram não haver nenhum problema de
compatibilidade ideológico-programático-partidário na sua atitude. Se aqueles
que fizeram essa pergunta a Afif houvessem se lembrado da entrevista do dono do
PSD, Kassab, quando da criação do partido, teriam se recordado de suas
palavras, de que os pessedistas não são de direita, de esquerda ou de centro,
muito pelo contrário... E não teriam indagado Afif.
Por outro lado, o governo de São
Paulo acaba de anunciar por seu governador Alckmin (o mesmo que há alguns
meses, diante da escalada da criminalidade em São Paulo vitimando policiais,
disse que “o Estado não vai se intimidar”), um dos ícones da mediocridade
tucana, que os policiais paulistas vão receber um bônus em seus salários quando
comprovarem que contribuíram para a redução da criminalidade em suas áreas de
atuação. A receita que se parece mais com o sistema de recompensas do velho
oeste americano, além de mostrar o despreparo da gerência governamental
brasileira, indica o que deve acontecer com esse incentivo pecuniário aos
policiais.
No começo do século passado, a peste
bubônica tomou conta do Rio de Janeiro. Osvaldo Cruz ao associá-la aos ratos
estimulou uma campanha com a população do Rio para interromper a disseminação
ou a diminuição desses roedores. Para cada rato capturado o governo pagaria
certa importância em dinheiro. Com isso, agindo o povo na captura de ratos e
ainda ganhando um dinheiro por isso o problema da peste bubônica estaria
resolvido, certo? Errado. Descobriu-se que o povo estava criando rato em casa
para vender para o governo, tornando-se uma fonte de renda. Adivinhem como os
índices de criminalidade em São Paulo vão diminuir dando aos seus policiais um
bônus em dinheiro por cada criminoso preso ou indiciado.
Essa é a nossa oposição política,
cheia de criatividade e gestão políticas.
O governo por sua vez – se
considerarmos governo, o federal – também não perde a pose em suas doses de
mediocridade. A diplomacia do governo Dilma não tem competência e eficiência
para libertar 12 torcedores presos num país de fundo de quintal, que é a
Bolívia, agredindo os mais elementares princípios de direito penal e
internacional. A segunda mulher mais poderosa do mundo, no entanto, não tem
força e autoridade para enquadrar o índio Morales e exigir a soltura desses pobres
brasileiros. Ah, se fosse com os norte-americanos fatos semelhantes como esse
não ocorreriam (por muito menos os norte-americanos já teriam botado muito
mexicano para correr). Mas se se falar algo assim, estar-se-á agindo como
recruta dos EUA, em tempos de patrulhamento ideológico, pois devemos respeitar
a soberania de nossos hermanos.
Nessas horas não me sai da cabeça aquela máxima de Nelson Rodrigues de que o
brasileiro tem complexo de vira-lata.
Agora há pouco o governo, a sétima
economia do planeta, anuncia que vai contratar 6.000 médicos cubanos para
suprir as nossas carências médicas na periferia das grandes cidades e no
interior do Brasil. Sem entrar na discussão se tais médicos estão ou não
qualificados para exercer a medicina (eu duvido muito que um país como Cuba,
isolado economicamente, possa preparar médicos de excelência), tal medida, na
verdade, expõe a deficiência médica para quem arrota estar acabando com a
pobreza. O Brasil potência, expressão que o petismo roubou dos militares com o
seu recorrente sofisma e manipulação gramaticais, não tem competência para
formar médicos no Brasil e prefere esconder o escandaloso quadro da saúde brasileira
com medidas populistas que só mascaram a nossa pobre realidade, de hospitais
caindo aos pedaços, déficit de médicos, pacientes morrendo na fila de
hospitais, etc, etc, etc.
Por último, o difundiu-se há pouco
um boato de que o governo ia acabar com o “bolsa família” e ainda haveria um
presente de dia das mães de R$ 200,00 da mamãe Dilma para as mães brasileiras.
Resultado: correria às agências da Caixa em 12 estados brasileiros para sacar o
dinheiro. O governo Dilma antes de qualquer questionamento já foi acusando a
oposição (ou aquilo que chama de oposição) de ser a responsável pelo tal boato.
Quem, no entanto, teria interesse numa notícia dessa e quem, senão o próprio
governo, teria condições de mobilizar e potencializar um boato dessa
embocadura, com os meios e recursos que ele dispõe? Na sequencia veio o
discurso oficial de que a Polícia Federal já está investigando o caso. E sabe
qual vai ser o resultado dessa investigação? Aquela mesma de quem procura o
pote de ouro debaixo do arco-íris.
Está faltando neste país governo e
oposição. Uma mão que governe (não a mão do chicote) e uma voz que conteste
(não a voz do embuste), elementos mínimos de uma democracia. Essa
degenerescência moral se espalha no tecido social brasileiro inoculando seu
vírus e matando pouco a pouco seu moribundo paciente, o povo brasileiro. Sim,
talvez a profecia de Austregésilo de Athayde tenha se confirmado quando, há
mais de meio século previu: “Por mais
importante que seja abrir escolas primárias, não posso deixar que mais grave
que não saber ler é, apenas sabendo ler, com esse escasso conhecimento
conquistar diplomas profissionais e ascender aos postos superiores do Estado.
Temo o triunfo dos analfabetos, que cada vez mais se acentua ameaçando o futuro
do Brasil”.
Parece que esse futuro chegou ao
Brasil.
Obs.: quando este artigo foi escrito
os torcedores corintianos na Bolívia não haviam sido soltos. Há uma semana sete
deles foram postos em liberdade, mantendo-se a situação prisional nas mesmas condições
em relação aos demais; do mesmo modo, Guilherme Afif Domingos sofre ameaça de impeachment na Assembleia Legislativa de
São Paulo, mas já se sabe que lá ele tem maioria para manter seu cargo de vice-governador,
em que pese ter sido exonerado temporariamente de seu cargo de ministro para assumir
a governança de São Paulo na viagem de Alckimin ao exterior. E já voltou a ser ministro
com a volta do governador!
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