segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A GUERRA SANTA AO SACO PLÁSTICO

A GUERRA SANTA AO SACO PLÁSTICO


De tempos em tempos os governos promovem certas campanhas que, se não têm nada de segundas intenções, denotam a estupidez ao que elas se prestam e propõem. Variam entre as macro e as micro campanhas (ainda poderíamos citar uma categoria intermediária naquele programa do governo de distribuir preservativos grátis no carnaval para impedir a disseminação da AIDS). As primeiras, as macro campanhas, encaixam-se no combate ao crack, que o governo Dilma anunciou um investimento de R$ 4 bilhões; as segundas, as micro campanhas, situam-se na guerra aberta aos sacos plásticos de supermercados que vêm recebendo, tolamente pelos ambientalistas, açulada pelo governo e, esperta e oportunamente, pelos donos daqueles estabelecimentos comerciais, apoio de uma “guerra santa”. A dinheirama que está sendo destinada ao combate ao crack – como das drogas de um modo geral - é uma campanha estúpida e ineficaz, mas será objeto de análise em outro artigo. Este artigo tratará da cruzada que foi iniciada contra os sacos plásticos de supermercados, nomeado o vilão, o inimigo público número do meio ambiente.
Tudo parece ter começado, ou ganhar corpo, quando o histriônico e então ministro do Meio Ambiente do governo Lula, Carlos Minc, lançou o mote dessa campanha: “o saco é um saco”. Não sei aonde querem chegar e o que pretendem aqueles que capitaneiam essa campanha que, de inócua tem tudo, de ineficaz tem muito, e de estéril tem demais. Sim, por que é de se indagar o que se tem a ganhar com essa guerra santa ao saco plástico? O que ele efetivamente, deixando de ser utilizado pelas donas-de casa, vai ajudar na proteção do meio ambiente? Seus defensores sustentam aquela cantilena de que o plástico leva em média 400 anos para se decompor e sem o nosso saquinho plástico de cada dia, a vida vai ser melhor.
Ora direis, ouvir estrelas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto..., diria o poeta, afora um esquema de marketing para enganar os tolos e favorecer sabe lá quem, essa campanha é um engodo sob todos ou quase todos os aspectos. Para tanto basta dar uma olhadinha em nossa volta para ver como o plástico está presente em nossas vidas mais do que possa supor nossas vãs filosofias marqueteiras. Ele não se resume aos sacos de supermercado. Pensando nisso é que comecei a observar em minha casa como ele é quase onipresente em nossas vidas. Lá – em minha casa – vi o plástico nas capas dos CD’s e DVD’s, nos copos, nas telas e revestimentos dos computadores, na tela e revestimentos dos televisores, nos controles remotos de TV, CD e DVD, nos cestos de lixo, nos fios e tomadas elétricas, na base de meu globo (mapa-múndi), nos revestimentos e capas dos livros que recebo, em embalagens de roupas, em sacolas de boutique, nas embalagens de xampu, de fio dental, de pasta de dente, de escova de dente, de creme de barbear, dos aparelhos de barbear, dos hidratantes, das tampas de perfume, de cabos de escova de cabelo, nas embalagens de cotonete, nos vasos de bijuterias, nos pentes de cabelo, nos desodorantes, na bolsa de maquiar, etc, etc, etc. Está bom? Mas, antes que pudesse encerrar os exemplos da presença do plástico, senão em nossas vidas, ao menos em minha casa, me deparei com ele, presente como nunca, na cozinha: no liquidificador, no revestimento do fogão, na geladeira, no forno de microondas, no revestimento da cafeteira, no revestimento da geladeira, na embalagem do adoçante, da manteiga, do café solúvel, na tampa do porta-bolo, da biscoiteira, do invólucro da embalagem do queijo, do presunto, das embalagens para guardar frutas, nas garrafas de refrigerante (da tampa ao rótulo)... Chega? No meu escritório vi grampeadores com revestimento de plástico, a impressora do computador, a luminária de leitura, os envelopes de SEDEX, a fita que embalou uma caixa da minha última viagem ... Dei uma olhada em meu carro no estacionamento e de relance vi o painel e os faróis de meu carro de plástico, muitos de seus acessórios, os cestões de lixo do prédio... Agora chega! O mundo é um mar de plástico que se transporta para além de minha casa e eu ficaria aqui um dia inteiro neste artigo falando da onipresença do plástico na vida moderna e isso até onde meu olho alcança. Mas o governo diz que vai acabar com essa intromissão banindo o saco plástico de supermercado.
Para quê? Até onde eu pude perceber os resultados dessa guerra santa foi o surgimento de um novo negócio - lucrativo! - dos donos de supermercado. Algumas das grandes redes de supermercado a título de estarem contribuindo com a proteção do meio ambiente oferecem ao cliente no caixa, na hora do pagamento das compras, as ditas sacolas ambientais. Oferecem, mas vendidas, é claro. Economizam seus custos com a abolição do saco plástico e lucram ao mesmo tempo com a venda das sacolas ambientais, que o otário do consumidor deve pagar para levar suas compras para casa.
Eu não sei como é que com tantas coisas importantes, o governo, usando os bobos e os ambientalistas, se volta para uma campanha que não tem o menor reflexo nas nossas vidas, o menor alcance prático, a menor consequência no nosso cotidiano. Plástico, seja ele de saco de supermercado ou não, ainda que leve muitos anos para se decompor, é reciclável, e as indústrias não estão lhe dando o desperdício que é alardeado. Pelo contrário, são reaproveitáveis e dão sustento até para catadores de lixo, pois está inserto numa vasta cadeia da economia. Há questões muito mais importantes a que o governo poderia – e deveria – se voltar, e pela qual os ambientalistas poderiam mirar suas armas. O desperdício da água e a falta de uma legislação para disciplinar sua utilização no Brasil, só para dar um exemplo, reclamam, por exemplo, um movimento muito maior e mais importante nesse sentido, mas, pouco dele se fala.
Assim, tudo se resume a mera publicidade, publicidade a que George Orwell disse ter sido a fraude mais sórdida que o capitalismo já inventou, porque ela “é o equivalente a agitar uma vara dentro do balde da lavagem”, enquanto nós, consumidores, somos “como porcos confinados” à espera do chamado.

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