domingo, 20 de março de 2011

A adesão de Kassab e a oposição brasileira

            A adesão de Kassab e a oposição brasileira



A revista Veja desta semana traz uma entrevista com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que dá a exata medida do oportunismo da classe política brasileira e o nível de deterioração política a que chegamos. Na  entrevista Kassab – como justificativa para deixar o DEM, seu partido, e criar ou refundar o PSD – diz estardesconfortável” nessa legenda, “porque o DEM começou a fazer oposição como se isso fosse um fim em si, sem propor nada para o país, num tipo de comportamento semelhante ao do PT antes que o partido da presidente Dilma chegasse ao poder”.

            Kassab diz ainda - com um cinismo que lhe é peculiar - ser “de centro”, mas, “com uma leve tendência para a esquerda”, e resume com esse ideário ideológico e com o conhecido chavão, que irá apoiar o governo da presidente Dilma naquilo que favoreça o Brasil e contra naquilo que não for do interesse do povo brasileiro. Kassab, até assumir a prefeitura de São Paulo em substituição a José Serra como seu vice, era um desconhecido da política nacional e sem expressão em seu estado natal. Obtendo visibilidade como prefeito da maior metrópole da América Latina e reeleito pelo DEM com apoio do PSDB, ele agora se diz um peixe fora d’água ou estranho no ninho em seu partido.

            Kassab mostra o que é. Um verdadeiro representante dessa choldra a que foi reduzida a oposição brasileira, onde o que vale são os interesses pessoais, conchavos e acertos partidários que visam tudo, menos o interesse do Brasil (embora isso não seja nenhuma novidade).

            Assim, afora as acusações de burla à legislação eleitoral que se atribuem a Kassab, que cria um partido para não perder o mandato e cair nas garras da infidelidade partidária, a sua atitude reflete muito mais o seu oportunismo político e, sobretudo, a que ponto chegou a oposição brasileira. Não sem razão, Roberto Pompeu de Toledo disse com acerto que a chegada do PT ao poder e os métodos por ele utilizados, estão levando o Brasil – se é que não levaram - a um processo de mexicanização no estilo do PRI – Partido Revolucionário Institucional – que dominou o México por várias décadas.

            Como se sabe, no período que o PRI dominou a cena política no México, havia eleições regulares, uma oposição formal e aparentemente instituições fiscalizatórias dos mandatários do poder. Mas na prática, era outra coisa. A cada eleição o PRI elegia o presidente da república e a esmagadora maioria dos mandatos em disputa. Gilberto Kassab acrescenta um ingrediente nessa receita e indica claramente com sua atitude que tempos estamos vivendo, aderindo com a roupagem do democrata de “leve tendência para a esquerda”, aonde estamos chegando ou aonde está chegando a oposição brasileira.

            No Brasil de Kassab a oposição parece ter perdido por completo a noção de conquista do poder e a consciência da necessidade de se fazer um contraponto ao governo. Nesse particular Kassab, aliás, não está , pois veja-se a conduta do senador Aécio Neves que, sem esconder sua ambição de chegar à presidência da república, não soube explicar como conseguiu sua eleição como governador em Minas Gerais com uma esmagadora vantagem sobre seu adversário, mas , ao mesmo tempo, permitir que Lula obtivesse em seu território imensa maioria de votos sobre Alckmin. Do mesmo modo, nas últimas eleições elegeu Antonio Anastasia e não deu esses mesmos votos a José Serra.

            Aécio diz ainda que vai fazer uma “oposição responsável” ao governo do PT, sem dizer, entretanto, o que venha isso a ser. Esse fenômeno na política brasileira, diferentemente de todos os outros, denuncia uma inexplicável aceitação da oposição aos ditames do donos poder, onde se vira as costas para compromissos e programas partidáriospouco anunciados.

            E por quê?  Sem querer me arrogar em cientista político, porque a lógica do poder no atual momento político brasileiro trabalha com o raciocínio de que primeiro deve se preservar o umbigo do postulante a um mandato e depois, o povo, o país, o partido, e resto que o parta...

            Essa é a cara dos políticos da oposição do Brasil. Candidato a primeiro mundo, o país tem como receituário uma política de consumo e baixos índices de saúde, escolaridade, segurança, uma brutal exclusão social e, principalmente, políticos de oposição de “leve tendência para a esquerda”. Lima Barreto, no começo do século passado, em suas Recordações do escrivão Isaías Caminha disse, com presciência destes tempos, que somos “Gente miserável quesanção aos deputados, que os respeita e prestigia! Por que não lhes examinam as ações, o que fazem e para que servem? Se o fizessem... Ah! Se o fizessem! Que surpresa! Riem-se, enquanto do suor, da resignação de vocês, das privações de todos tiram ócios de nababo e uma vida de sultão”.

            Lima Barreto talvez tenha sido duro demais com o povo brasileiro, mas, quanto aos seus políticos... Ah, isso é outra coisa...

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