A adesão de Kassab e a oposição brasileira
A revista Veja desta semana traz uma entrevista com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que dá a exata medida do oportunismo da classe política brasileira e o nível de deterioração política a que chegamos. Na entrevista Kassab – como justificativa para deixar o DEM, seu partido , e criar ou refundar o PSD – diz estar “desconfortável ” nessa legenda , “porque o DEM começou a fazer oposição como se isso fosse um fim em si , sem propor nada para o país , num tipo de comportamento semelhante ao do PT antes que o partido da presidente Dilma chegasse ao poder ”.
Kassab diz ainda - com um cinismo que lhe é peculiar - ser “de centro ”, mas , “com uma leve tendência para a esquerda ”, e resume com esse ideário ideológico e com o conhecido chavão, que irá apoiar o governo da presidente Dilma naquilo que favoreça o Brasil e contra naquilo que não for do interesse do povo brasileiro . Kassab, até assumir a prefeitura de São Paulo em substituição a José Serra como seu vice , era um desconhecido da política nacional e sem expressão em seu estado natal . Obtendo visibilidade como prefeito da maior metrópole da América Latina e reeleito pelo DEM com apoio do PSDB, ele agora se diz um peixe fora d’água ou estranho no ninho em seu partido .
Kassab mostra o que é. Um verdadeiro representante dessa choldra a que foi reduzida a oposição brasileira , onde o que vale são os interesses pessoais , conchavos e acertos partidários que visam tudo , menos o interesse do Brasil (embora isso não seja nenhuma novidade ).
No Brasil de Kassab a oposição parece ter perdido por completo a noção de conquista do poder e a consciência da necessidade de se fazer um contraponto ao governo . Nesse particular Kassab, aliás , não está só , pois veja-se a conduta do senador Aécio Neves que , sem esconder sua ambição de chegar à presidência da república , não soube explicar como conseguiu sua eleição como governador em Minas Gerais com uma esmagadora vantagem sobre seu adversário , mas , ao mesmo tempo , permitir que Lula obtivesse em seu território imensa maioria de votos sobre Alckmin. Do mesmo modo , nas últimas eleições elegeu Antonio Anastasia e não deu esses mesmos votos a José Serra .
Aécio diz ainda que vai fazer uma “oposição responsável ” ao governo do PT, sem dizer , entretanto , o que venha isso a ser . Esse fenômeno na política brasileira , diferentemente de todos os outros , denuncia uma inexplicável aceitação da oposição aos ditames do donos poder , onde se vira as costas para compromissos e programas partidários há pouco anunciados.
E por quê ? Sem querer me arrogar em cientista político , porque a lógica do poder no atual momento político brasileiro trabalha com o raciocínio de que primeiro deve se preservar o umbigo do postulante a um mandato e só depois , o povo , o país , o partido , e resto que o parta ...
Essa é a cara dos políticos da oposição do Brasil. Candidato a primeiro mundo , o país tem como receituário uma política de consumo e baixos índices de saúde , escolaridade , segurança , uma brutal exclusão social e, principalmente , políticos de oposição de “leve tendência para a esquerda ”. Lima Barreto, no começo do século passado , em suas Recordações do escrivão Isaías Caminha disse, com presciência destes tempos , que somos “Gente miserável que dá sanção aos deputados , que os respeita e prestigia! Por que não lhes examinam as ações , o que fazem e para que servem? Se o fizessem... Ah! Se o fizessem! Que surpresa ! Riem-se, enquanto do suor , da resignação de vocês , das privações de todos tiram ócios de nababo e uma vida de sultão ”.
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