domingo, 10 de abril de 2011

O massacre do Rio de Janeiro

Quando ocorre uma tragédia no Brasil como essa em que um rapaz de 22 anos matou a tiros 12 crianças e feriu outras tantas numa escola do Rio de Janeirodois dias, o país é tomado de comoção e não poucas vezes de indignação. Realmente, o que ocorreu no Rio não poderia deixar de chocar as pessoas sensíveis, mormente porque a ocorrência de fatos dessa natureza provinha de países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos, jamais no Brasil.
Mas o que chamou a atenção nesse episódio foi a reação de certas pessoas públicas, em particular a dos políticos, numa verdadeira demonstração de oportunismo, demagogia e fingimento com a dor alheia, além das infindáveis explicações para o que ocorreu e as soluções para que o fato não volte a ocorrer.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, exprimindo sua revolta com o criminoso o chamava de psicopata, de bandido, etc. Sérgio Cabral não devia esquecer que estava se dirigindo a um morto que, como todos sabem, logo após o seu ato tresloucado se matou. E, de todos os adjetivos que Sérgio Cabral lançou ao assassino somente o de psicopata lhe assenta mais adequadamente, ainda que se saiba que o governador não se dirigiu a ele nos termos técnicos a que a medicina define e classifica um psicopata. Sérgio Cabral, principalmente em razão de seu cargo, ao invés de sua cena demagógica de ofensa ao morto-louco, deveria ser mais comedido e agir como estadista, passando à população do seu Estado e do Brasil, que medidas iriam ser adotadas para se descobrir as causas de fato tão inusitado e absurdo. Sua atitude e reação se justificam na pessoa comum do povo, não na de um governador de Estado.
Sarney disse que o massacre equivalia a um ato de terrorismo, sem informar se esse terrorismo ao qual ele se referia dizia respeito àqueles que vêm precedidos de um componente ideológico, principalmente dos extremistas islâmicos.
Maria do Rosário, secretária dos direitos humanos, com sua proverbial hipocrisia, ensaiou um choro quando teria sabido do massacre no Rio de Janeiro ou, quem sabe, quando soube que sua chefe Dilma Roussef havia vertido lágrimas em prol das crianças mortas e feridas. Tendo ainda dois filhos pequenos, sei o quanto é doloroso para um pai ou uma mãe perder um filho nessas circunstâncias. Mas se você me perguntar se eu chorei pela morte dessas crianças eu direi que não. E por que choraria? Quando se chora em razão de algum sentimento de perda, esse choro como expressão da dor e da saudade se dá de um modo geral se a pessoa que se perde nos é próxima, bem próxima. Isso porqueum laço de afetividade que une a perda, a dor e a saudade. Quando são anônimos que morrem, ou, mesmo pessoas conhecidas que desaparecem, mas que não têm proximidade com a gente, não é possível chorar como o fizeram algumas notoriedades brasileiras.
Na esteira desses episódios, no entanto, logo vieram as mais estapafúrdias explicações e soluções para o que ocorreu no Rio de Janeiro e para que não venha mais a ocorrer. Falou-se que o massacre não teria ocorrido se a venda de armas no Brasil fosse proibida; que Wellington Oliveira foi influenciado pelos terroristas islâmicos do 11 de setembro; que cada escola no Brasil deveria ter um guarda na porta ou um porteiro, etc, etc. E não se supreendam se qualquer dia desses não aparecer um pastor dessas igrejas pentecostais que infestam o país dizendo que Wellington tinha pacto com o Diabo.
Enfim, todo mundo quis aparecer e o que não faltou foi palpiteiro. Mas, com suas exceções, faltaram reflexão, sobriedade, cautela. A primeira explicação que se deve dar ao que ocorreu na escola Darci Silveira é que, quando a pessoa que vai matar não está preocupada com a sua própria vida, nãosegurança nesse mundo que proteja quem quer que seja; que quando essa pessoa é um fanático ou um desajustado mental, nãosistema que possa prever ou prevenir o seu ataque.
 As coisas e sistemas deste nosso melhor dos mundos são feitas para proteger e prever fatos previsíveis e a tragédia do Rio de Janeiro não estava nesse rol.
Wellington Oliveira era filho de uma mãe neurótica ou esquizofrênica, sendo adotado na infância. Tinha uma vida de quase reclusão, com poucos amigos e de uma introspecção que o levava a viver uma vida virtual no computador e alimentando um sentimento de rejeição pela sociedade. Esse lobo da estepe um dia entrou na selva e fez o que fez. E na fila desse rapaz, podem estar certos, há muitos Wellingtons prontos para explodir.
Além de medidas protetivas, ao invés desse açodamento de se buscar soluções imediatistas, esse caso deveria ser objeto de estudos por psiquiatras e psicólogos e servir de alerta que o Brasil não tem uma política pública para tratar os seus loucos e portanto passar a pensar nisso seriamente.

Um comentário:

  1. Excelente texto. Lúcido, objetivo e necessário.

    Infelizmente, uma tragédia dessa magnitude, não traz a reflexão adequada ao nosso povo. Ao invés disso, um estapafúrdio sensacionalismo toma conta do horário nobre e transforma a tragédia num circo.

    Ver o governador do Rio de janeiro, referir-se ao assassino, como animal, é dar continuidade num raciocínio medíocre. O Brasil, em pleno 2011, não tem uma política pública de saúde mental. Ou melhor, em pleno 2011, SEQUER algum destes políticos chorões, se preocupou em falar deste assunto.

    Outra coisa que achei absurda, foi ouvir de diversos políticos que o Brasil não está acostumado com esse tipo de crime que ocorreu em Realengo.

    Não estamos acostumados a ver crianças inocentes perderem a vida por causa de um doente armado que entra atirando numa escola.
    Mas verdade seja dita: o crime que estamos acostumados é a corrupção que mata centenas de crianças, por falta de saneamento básico, por falta de acesso a serviços de saúde, pela morosidade, lerdeza e fragilidade das políticas de saúde. Dezenas morrem todos os dias por falta de leitos nos hospitais. Outras tantas, morrem sem ter um diagnóstico e tratamento dignos.

    Centenas de crianças inocentes morrem, não pela arma de um psicopata, mas pelo poder dado pela população, a políticos inescrupulosos e corruptos. Esses mesmos que choram na TV diante de uma tragédia dessas, mas que ignoram seu real papel na sociedade e pouco se importam se nesse momento dezenas de crianças estão morrendo em virtude da corrupção. Esta sim, a pior "doença" dos políticos brasileiros.

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